A enfermeira Mara Abreu, de 42 anos, morreu de falência aguda hepática após ingerir cápsulas de um “chá emagrecedor” facilmente encontrado na internet
Entenda a polêmica
“Chás emagrecedores” e a busca fatal por um padrão de beleza
Bora debater um caso importantíssimo hoje? A enfermeira Mara Abreu, de 42, que trabalhava no Hospital Santa Joana, morreu no último dia 3 após tomar cápsulas de um “chá emagrecedor”. A confirmação foi dada pelo Hospital das Clínicas.
A mulher teve um quadro de hepatite fulminante após ingerir o “medicamento” e entrou às pressas na fila do transplante de fígado, que chegou a ser realizado, mas Mara já estava muito debilitada e seu corpo rejeitou o novo órgão.
CHÁ É PROIBIDO NO BRASIL
Em nota, a Anvisa alertou que produtos do tipo “50 Ervas Emagrecedor” é proibido no país desde 2020, pois não são regularizados como medicamentos nem podem ser classificados como alimentos. “Qualquer produto com propriedades terapêuticas, por exemplo, com a promessa de emagrecimento só pode ser comercializado no Brasil com autorização da Anvisa e o comercio só pode acontecer em farmácias ou drogarias, já que substâncias com propriedades terapêuticas são consideradas medicamentos”, alertou a agência.
Nas redes sociais, a médica Liliana Ducatti Lopes, cirurgiã do aparelho digestivo do HCFMUSP, disse que os casos envolvendo esses chás são dramáticos, pois o quadro de falência do fígado é aguda. “Nós recomendamos não fazer uso desse tipo de medicação, como chás que desincham, detox, etc. Isso tudo é charlatanismo(…) Uma falsa ilusão de que é natural”, garantiu em vídeo.
“É NATUREBA, ENTÃO NÃO FAZ MAL”
Pera lá! Tudo pode fazer mal, se ingerido em quantidades exageradas. O Chá Verde é, por exemplo, um produto que irrita o fígado, mas nem por isso não é liberado para ser vendido como alimento nos mercados. A questão é que esses “chás emagrecedores” costumam misturar uma variedade muito grande de ervas que são nocivas para o sistema hepático e acabam funcionando como uma espécie de bomba.
Raymundo Paraná, coordenador do grupo que recebe os casos de hepatite fulminante no Hospital da Universidade Federal da Bahia, identificou sete ervas hepatotóxicas no manipulado que levou a enfermeira a óbito. A medicina natural é uma vertente e nem tudo nela faz mal, contudo, a gente precisa se questionar e investigar muito bem as coisas antes de sair consumindo tudo o que nos é oferecido na internet e na televisão. A oferta é grande, a procura também. Cientificamente, nenhum estudo ainda foi feito que comprove que chás emagreçam. Não existe milagre e não é só porque é natural que não pode fazer mal. Como diz aquele ditador popular: “Todos os cogumelos são comestíveis. Alguns, apenas uma vez”.
A BUSCA POR UM PADRÃO
Nesta história toda, é impossível não questionar o fato de uma mulher já magra ter morrido por ter tomado um chá que prometia emagrecimento. E, não, a culpa não foi dela – nem é de pessoas que já fizeram ou fazem uso de “medicamentos” do tipo. Na verdade, existe todo um sistema que afeta, sim, homens e mulheres – mas ainda mais mulheres, vide sociedade machista em que vivemos -, que incentiva diariamente a busca por um “corpo perfeito” que é irreal.
Nas redes sociais, em casa, no trabalho, as mulheres são bombardeadas por comentários sobre seus corpos, sobre “a barriga chapada para curtir o Verão”, sobre procedimentos estéticos que são feitos por meninas cada vez mais novas, por produtos “milagrosos” vendidos por celebridades magérrimas que, por uma boa grana, topam fazer propaganda para um chá que promete desinchar – como se tivesse algo lá para ser desinchado.
A indústria das cirurgias plásticas e da beleza é muito cruel para as mulheres, assim como o mundo no geral, que está sempre as colocando em uma competição por uma perfeição que, sinceramente, não existe – só que, mesmo sabendo disso, por uma série de razões, muitas que podem ser explicadas novamente por questões estruturais da sociedade, tantas acabam caindo na tentação. São, portanto, vítimas de um sistema.
Last modified: 10 de fevereiro de 2022
