Milton Ribeiro pede exoneração do cargo de ministro da Educação após lobby dos pastores vir à tona; parlamentar se diz inocente. Saiba mais sobre o caso
Entenda a polêmica
A queda de Milton Ribeiro do MEC foi justa?
Na segunda-feira (28), Milton Ribeiro, ministro da Educação, pediu exoneração do cargo a Jair Bolsonaro após polêmicas envolvendo um suposto esquema fraudulento comandado pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
O parlamentar disse que sua família e ele estavam sofrendo pressão, o que o deixou bastante preocupado. “Minha exoneração visa também deixar claro que quero, mais que ninguém, uma investigação completa e longe de qualquer dúvida acerca de tentativas deste ministro de Estado de interferir nas investigações”, informou. Além disso, Ribeiro garantiu que sua saída não significa um adeus, mas um até breve: “Depois de demonstrada minha inocência estarei de volta, para ajudar meu país e o presidente Bolsonaro na sua difícil mas vitoriosa caminhada”, declarou.
Relembre o caso do lobby dos pastores
Recentemente, a Folha divulgou um áudio de Milton Ribeiro dizendo que “o governo prioriza prefeituras cujos pedidos de liberação de verba foram negociados pelos pastores Gilmar e Arilton”, conforme consta na reportagem.
Na mesma gravação, o até então ministro afirma que segue essas ordens a mando de Bolsonaro. Há pouco tempo, o jornal O Estado de S. Paulo já havia revelado que os pastores não só influenciavam nas decisões internas da bancada da educação, como usufruíam de regalias oficiais, como voar em aviões da Força Aérea Brasileira, mesmo sem qualquer tipo de vínculo direto administrativo com o ministério.
Como o MEC já havia se envolvido antes em polêmicas, como aquelas a respeito da revisão de questões do Enem consideradas impróprias pelo governo, ficou a desconfiança de que, possivelmente, muitas dessas manobras internas eram comandadas pelos pastores, grandes amigos do presidente da República, que simplesmente ignoravam o fato de o Estado ser, em tese, laico.
Outra questão envolvendo o lobby se deu no Pará, no dia 2 de julho de 2021, quando durante um evento bíblias com as fotos de Gilmar e Arilton foram distribuídas, em uma espécie de formalização do “patrocínio” concedido pelos pastores. Na sequência, a prefeitura da cidade de Salinópolis, que abrigou a reunião, recebeu instantaneamente – e curiosamente? – verbas do MEC.
A repercussão da queda
Nas redes sociais, a exoneração de Milton Ribeiro foi bastante comentada e aplaudida. A Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) deu a seguinte declaração: “Tiramos mais um péssimo ministro da Educação. Só falta tirar o título para tirar o Bolsonaro”.
Para a entidade, que representa os estudantes de Ensino Fundamental, Médio, Pré-vestibular e Técnico do Brasil, não há dúvidas de que o ex-ministro transformou o MEC em um “balcão de negócios do governo Bolsonaro”.
Natália Bonavides, advogada e deputada federal pelo Rio Grande do Norte, também usou as redes para se pronunciar sobre o caso, momentos antes da exoneração ser solicitada: “O ministro da Educação já discute uma licença do cargo para se defender do escândalo de propina no MEC. Aquele que envolve os amigos do presidente e negociatas com ouro. Já passou da hora de Milton Ribeiro ser exonerado e de todo esse governo cair e responder pelos seu crimes”, escreveu no Twitter.
Victor Godoy assume provisoriamente no lugar de Milton Ribeiro
Quem entra no lugar?
Com o pedido de exoneração aceito, quem substitui Ribeiro no cargo é Victor Godoy Veiga, que atuava como Secretário-executivo do MEC. Ele se torna assim o 5º ministro a assumir a pasta durante a gestão Bolsonaro.
Formado em Engenharia de Redes de Comunicação de Dados pela Universidade de Brasília, Godoy tem diversas especializações em Justiça e Globalização, além de já ter trabalhado como Auditor Federal de Finanças e Controle da Controladoria-Geral da União. O cargo a frente do MEC é, contudo, temporário e em breve o governo deve disponibilizar mais capítulos dessa novela pra lá de atrapalhada, mas com um enredo nada surpreendente.
Last modified: 3 de março de 2023