Além das microagressões diárias e dos crimes de gênero, mulheres têm que lidar com uma realidade em que seus corpos viram armas de guerra
Brasil
Uma mulher é estuprada a cada dez minutos no país
Durante o mês de março, a luta feminina é relembrada e celebrada. Muitas foram as conquistas, mas ainda há um longo caminho pela frente – ainda mais se avaliarmos contextos de guerra, em que a violência contra a mulher é utilizada como arma por soldados.
No Brasil, em 2021, a cada 10 minutos uma mulher foi estuprada. A cada 7h, um feminicídio ocorreu no país. Os dados do Fórum Brasileiro de Segurança mostram que houve uma queda de 3% em comparação ao ano de 2020, quando a pandemia fez disparar as denúncias de violência doméstica. Os números, contudo, seguem altos.
É evidente que esse cenário é resultado de uma construção social baseada em valores patriarcais. O isolamento social também teve sua parcela de culpa, visto que mais de 70% da violência contra a mulher ocorre dentro de casa, segundo levantamento do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Contudo, há uma culpa governamental, e são os dados que dizem.
Na terça-feira (8), Dia Internacional da Mulher, o Instituto de Estudos Socioeconômicos divulgou que a verba atual do governo Bolsonaro destinada ao combate à violência contra mulher foi a menor em quatro anos. “É a alocação mais baixa dos quatro anos de gestão da ministra Damares Alves”, garantiu o Inesc.
Com isso, diversas redes de apoio acabam ficando negligenciadas, como a Casa da Mulher Brasileira, mais famosos centro de atendimento humanizado e especializado à vítima de violência doméstica. “Os números alarmantes de violência contra a mulher são um retrato de um orçamento que não permite que os recursos federais cheguem aos estados e municípios, ou quando chegam é com atraso e em quantidade insuficiente”, explicou Carmela Zigoni, assessora política do instituto.
Outro dado chama a atenção: em 2020, no auge da pandemia de coronavírus, quando as denúncias de violência doméstica dispararam, o governo deixou 70% do recurso destinado à segurança das mulheres em situação de risco sem utilização.
Nem tudo são flores, mas…
… Em meio a tantas notícias negativas, é legal saber que o Brasil fica acima da média mundial no índice de mulheres a frente de empresas médias: 34% contra 29%, de acordo com a Grant Thorton International.
Entretanto, um estudo do Ipsos, divulgado em 2019 com o nome de “Atitudes Globais pela Igualdade de Gênero”, mostra que uma em cada três pessoas sente-se desconfortável em ser liderada por mulheres, sendo que 34% das chefes entrevistadas admitem sentir a misoginia no ar.
É importante também lembrar que os ambientes empresariais são ainda majoritariamente brancos. Por isso, é preciso fazer um recorte racial ao se deparar com tais dados, pois as mulheres negras, principais vítimas da violência de gênero no Brasil, seguem sem conseguir acessar espaços que deveriam ser para todas.
Entenda a polêmica
A violência contra a mulher como arma de guerra
A História é marcada por guerras territoriais, econômicas, politicas e raciais. Na maioria delas, a violência contra a mulher foi utilizada como arma por militares.
Por exemplo, na Guerra do Tigré, iniciada na região Nordeste da África em novembro de 2020, mulheres seguem sendo estupradas na frente de familiares como se fossem objetos que pudessem ser usados para torturar terceiros.
Os crimes são cometidos por soldados das tropas da Etiópia e Eritreia, e foram denunciados pela Anistia Internacional. “Centenas delas foram submetidas a tratamentos brutais com o objetivo de degradá-las e desumanizá-las. A gravidade e a escala dos crimes sexuais cometidos são particularmente chocantes, puníveis como crimes de guerra e, possivelmente, crimes contra a humanidade”, declarou Agnès Callamard, secretária-geral da ONG.
Nos atuais conflitos no Leste Europeu, as denúncias já começaram. Dmytro Kuleba, ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, disse que militares russos estão estuprando mulheres em cidades que foram por eles ocupadas. “É difícil falar sobre a eficácia do direito internacional”, lamentou.
Last modified: 3 de março de 2023