Danilo Gentili é sempre um nome controverso, mas por que um filme antigo dele voltou aos noticiários e recebeu denúncias de apologia à pedofilia?
Entenda a polêmica
O massacre ao pior filme da história?
Em 2017, Como se Tornar o Pior Aluno da Escola foi lançado. Baseado no livro homônimo de Danilo Gentili, ele voltou a ficar em pauta agora, após chegar ao catálogo da Netflix e ser atacado inicialmente pelo deputado estadual André Fernandes (PL-CE), que deu start em todo o “bafafá”.
Mas por que o longa está sendo tão criticado? Qual é o posicionamento da Justiça, das plataformas de streaming e dos atores sobre essas críticas? A gente te conta!
Quem é André Fernandes?
O parlamentar, que se autointitula conservador, bolsonarista e armamentista, é deputado estadual pelo Ceará e pastor. Polêmico, ele já estrelou vídeos no YouTube sobre como depilar o ânus e cheirar cocaína do jeito certo (usando, segundo ele, sal de cozinha para simular a droga). Sua justificativa para tais conteúdos é que, na época, ele era jovem e tinha o sonho de bombar na internet.
O que ele viu de errado no filme?
Com classificação indicativa de 14 anos, Como se Tornar o Pior Aluno da Escola segue as diretrizes do Ministério da Justiça para a classificação etária de obras audiovisuais. Contudo, uma cena em especial fez o parlamentar encaminhar para o Ministério Público uma denúncia de apologia à pedofilia.
André Fernandes ao lado de Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução/Facebook)
No trecho, Cristiano, personagem de Fábio Porchat, um inspetor escolar de caráter duvidoso, diz para alguns alunos: “A gente esquece o que aconteceu e, em troca, vocês batem uma punheta pro tio”.
Logo, uma onda bolsonarista contra o filme se iniciou, uma vez que a maioria das críticas veio de apoiadores de Jair Bolsonaro, como Carla Zambelli, que disse que o filme “naturaliza a pedofilia a fim de normalizá-la”.
O que dizem os atores?
Casos de pedofilia são apartidários, mas não tem como isolar a política desta história, uma vez que toda a polêmica começou com a movimentação de parlamentares que se dizem abertamente bolsonaristas e conservadores – para muitos, uma manobra para desviar a atenção de problemas, como o novo aumento do preço dos combustíveis.
O próprio Danilo Gentili disse que conseguiu o maior feito de sua carreira até então: “Desagradar com a mesma intensidade tanto petistas quanto bolsonaristas”, cutucou. Ele também retrucou as falas de Mario Frias, secretário especial da Cultura, que disse que o filme faz apologia ao abuso infantil. O comediante apontou que a censura nunca acaba, só muda de agenda.
O ator se posicionou dizendo que o filme critica e denuncia o comportamento padrão de pedófilos, e que as pessoas que estão criticando a cena não estão entendendo justamente isso. “A cena em questão é exatamente sobre uma pessoa que se apresenta como o melhor aluno da escola, que seria uma autoridade, pedindo coisas abjetas e absurdas para os alunos, que não obedecem o cara só porque ele é uma autoridade. Então, na verdade, em momento algum o filme faz apologia à pedofilia. O filme vilaniza a pedofilia”, declarou com exclusividade ao programa Morning Show, da Jovem Pan.
Fábio Porchat, que estrela o polêmico trecho, também se pronunciou sobre as acusações: “O Marlon Brando interpretou o papel de um mafioso italiano que mandava assassinar pessoas. A Renata Sorrah roubou uma criança da maternidade e empurrava pessoas da escada. A Regiane Alves maltratava idosos. Mas era tudo mentira, tá, gente? Essas pessoas na vida real não são assim. Temas super pesados são retratados o tempo todo no audiovisual”.
O personagem de Porchat no filme (Foto: Reprodução/Warner)
O ator e humorista também explicou que vilões existem não para incentivar algo, mas para justamente causar repúdio e alertar para mundos perversos que existem: “Não é apologia”, assegurou.
O posicionamento da Justiça
Apesar de tudo, o Ministério da Justiça decidiu suspender a exibição do filme nas plataformas de streaming, entre elas Netflix, GloboPlay, Telecine e YouTube. A decisão foi assinada por Lilian Brandão, diretora do Departamento de Proteção e de Defesa do Consumidor. A justificativa foi a “proteção à criança e ao adolescente consumerista”.
Caso a disponibilização, exibição e oferta não sejam interrompidas em até cinco dias, uma multa diária de R$ 50 mil será aplicada. GloboPlay e Telecine, contudo, já se pronunciaram dizendo que o filme continuará no catálogo, uma vez que “a decisão ofende o princípio da liberdade de expressão, é inconstitucional e, portanto, não pode ser cumprida”.
As empresas ainda disseram que respeitam todos os pontos de vista e entendem que alguns trechos da comédia podem soar ofensivos para algumas pessoas, mas que “o consumo de conteúdo em um serviço de streaming é, sobretudo, uma decisão do assinante – e cabe a cada família decidir o que deve ou não assistir”.
Também foi questionado o fato de que, em 2017, quando Como Se Tornar O Pior Aluno Da Escola foi lançado, o próprio Ministério da Justiça classificou o longa como apropriado para adultos e adolescentes maiores de 14 anos.
Pedofilia é crime previsto em lei?
Apesar de, em 2021, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados ter aprovado uma PL que inclui a pedofilia na Lei de Crimes Hediondos, não há em nossa Constituição uma lei específica para a questão, já que a pedofilia em si não é crime, sendo considerada um caso de psicopatologia.
Quando o pedófilo exterioriza a doença, ou seja, comete crimes de abuso sexual contra menores de idade, por exemplo, o ato em questão é julgado pela Justiça, não a patologia em si. Exatamente por isso, o assunto se torna ainda mais polêmico.
Last modified: 3 de março de 2023