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Written by 10:22 Brasil

Lobby dos pastores: entenda a nova polêmica que envolve o MEC

Gabinete paralelo liderado por pastores, a mando de Jair Bolsonaro, exerceria o controle do Ministério da Educação, segundo reportagem. Confira a seguir

Entenda a polêmica

Lobby dos pastores faz MEC protagonizar novo escândalo

Um reportagem exclusiva do Estadão revelou que existe um gabinete paralelo que controla o Ministério da Educação capitaneado pelos pastores Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura, ambos da Assembleia de Deus Cristo para Todos. Eles atuam como lobistas e, embora não tenham nenhum vínculo administrativo com a pasta, têm grande influência sobre Milton Ribeiro, atual ministro da Educação. 

A notícia explodiu no mundo político, ainda mais após vazarem áudios de Ribeiro dizendo que obedece a ordens de Jair Bolsonaro. Para especialistas, o ministro pode estar com os dias contados.

O começo do fim?

No último dia 18, o Estadão expôs o esquema de lobistas liderado por Gilmar Silva dos Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, e Arilton Moura, assessor de Assuntos Políticos da entidade, que interferem diretamente na agenda de Milton Ribeiro e no andar da carruagem, mais conhecida como MEC.

Nos últimos 15 meses, os pastores participaram de 22 agendas oficiais do ministério, cujas reuniões são descritas como “alinhamento político”. 

O que significa ser lobista?

Significa praticar lobby político, ou seja, pressionar algum poder da esfera política com o intuito de influenciá-lo na tomada de decisões. No caso do lobby dos pastores, Gilmar e Arilton liberavam e/ou aceleravam o empenho de recursos a determinados municípios, além de fazerem com que Milton Ribeiro favorecesse os pedidos que chegavam por meio deles.

O Centrão foi o que mais se beneficiou, sendo que os prefeitos do Progressistas, do PL e do Republicanos foram os que mais tiraram vantagem desse gabinete paralelo. Curiosamente, ou não, esses três partidos são justamente aqueles que controlam o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. 

Além dessa influência sobre as decisões da pasta, os pastores viajavam em voos da Força Aérea Brasileira e ditavam quem entraria ou não no gabinete oficial do ministro, segundo registros do próprio governo.

O que acontece a partir de agora?

Para especialistas políticos, o gabinete paralelo do MEC caracteriza um tráfico de influência. “Qualquer pessoa pode levar determinados pleitos a algum representante do poder público. É legítimo. Agora, a partir do momento que passa a ser uma prática, um exercício de uma atividade pública (por alguém que não faz parte da administração), configura o crime”, explicou o advogado Cristiano Vilela ao Estadão.

Os deputados federais Kim Kataguiri (União Brasil-SP) e Túlio Gadêlha (PDT-PE) acionaram a Procuradoria-Geral da República e protocolaram denúncias a respeito da questão envolvendo o MEC, os pastores e o próprio Bolsonaro. Na última terça-feira (22), o senador Alessandro Vieira (PSDB-SE) disse que iria acionar também o Ministério Público.

Para ele, não é pertinente tratar tais absurdos e/ou crimes como algo normal. “Vamos cobrar providências contra o ministro da Educação, por possível improbidade administrativa, e investigações do MPF sobre o gabinete paralelo da Educação, por tráfico de influência”, informou.

Bolsonaro recebe os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura no Palácio do Planalto (Foto: Carolina Antunes/PR)

“A troco de que esses dois pastores, que não têm cargo no governo federal e não ocupam função pública, estariam legitimados pelo presidente Bolsonaro como interlocutores de prefeitos junto ao gabinete do ministro da Educação, que também é chefiado por um pastor? O gabinete paralelo da Educação, criado pelo governo Bolsonaro, afeta diretamente a distribuição dos recursos do FNDE”, manifestou-se a deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL-SP) nas redes sociais. A colega de Câmara Tábata Amaral (PSB-SP) também se pronunciou sobre o caso, classificando a atitude de Milton Ribeiro como escandalosa e afirmando que “ele vai cair”.

Um legado marcado pelo caos

Sob o comando de Milton Ribeiro, o MEC protagonizou uma série de polêmicas, muitas envolvendo o Enem. “A gestão de Milton Ribeiro à frente do Ministério da Educação tem sido marcada pela confusão entre o exercício do cargo e a condição de líder religioso do ministro, ainda que o Estado brasileiro seja laico”, disse Aloízio Mercadante, ex-ministro da Educação do governo Dilma.

Ribeiro, que é advogado, teólogo e pastor, foi acusado no começo do ano por praticar crime de homofobia, além de já ter dado inúmeras declarações machistas. Em determinada ocasião, ele chegou a relativizar a pedofilia, dizendo que a criança pode dar a entender que está querendo algo ao replicar algo que viu na televisão – tirando a culpa de cima de quem deveria carregá-la.

Com mais essa envolvendo o lobby dos pastores, fica difícil acreditar na sobrevivência de Milton no cargo. A Procuradoria-Geral da República disse que vai analisar todas as protocolações contra o ministro que chegarem oficialmente até o órgão e o subprocurador Lucas Rocha Furtado entrou com uma representação, no Tribunal de Contas da União, para que o caso seja investigado por agir contra a Constituição.

“Esse é o nosso governo. É o governo do presidente Jair Bolsonaro”, declarou Milton Ribeiro em agosto do último ano, durante reunião de caráter religioso na Bahia. Não tem nem como desconversar, né?

Last modified: 3 de março de 2023
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