Possibilidade de cessar-fogo aumenta em meio a rumores de uma 3ª Guerra Mundial. Como boicotes “terceirizados” podem ser malvistos e desrespeitosos?
Entenda a polêmica
Distorceram o significado da palavra boicote?
No domingo (13), a Rússia atacou uma base militar nos arredores de Lviv, no oeste da Ucrânia, uma região próxima da Polônia, membro da Otan. Cerca de 35 pessoas morreram e outras 134 ficaram feridas.
Para muitos, a investida deixa o mundo mais próximo de acompanhar uma 3ª Guerra Mundial. Contudo, também no domingo, Rússia e Ucrânia realizaram novas negociações e falaram em um acordo “nos próximos dias”. Kiev diz que não vai ceder, mas garante que Moscou “está começando a falar de forma construtiva”. Os Estados Unidos veem “sinais de negociações sérias e reais” por um cessar-fogo.
A manobra das sanções
No globo, vários países, especialmente aqueles que fazem parte da Otan, começaram a estabelecer medidas de boicote contra a Rússia. Marcas também entraram na jogada. Por exemplo, Coca-Cola e McDonald’s interromperam por tempo indeterminado suas atividades no país. A União Europeia, por outro lado, proibiu transações com o Banco Central de Belarus e o fornecimento de notas denominadas em euros à principal aliada de Vladimir Putin.
No Brasil, o governo optou por se manter neutro e não aderir às sanções totais ou seletivas. Entretanto, alguns estabelecimentos privados decidiram promover boicotes bastante polêmicos.
Ativismo ou desativismo?
O Bar da Dona Onça, premiado espaço no centro de São Paulo, chefiado por Janaína Rueda, decidiu retirar o estrogonofe do cardápio “em repúdio à guerra”.
A justificativa usada foi a de que o prato, apesar de ter sido adaptado pelos brasileiros, tem origem russa, tendo sido criado depois de um pedido feito pelo Conde Grigory Stroganov, por volta de 1700. Depois de ter o boicote gongado nas redes sociais, a refeição, uma das mais pedidas do local, voltou a ser vendida.
Movimentação parecida ocorreu nos bares Levels Lounge e Vaca Véia, no Itam. Nada foi tirado do cardápio, mas rolou uma alteração de nome: o Moscow Mule passou a se chamar Kiev Mule. “Fica o recado de conscientização do que está acontecendo do outro lado do mundo”, explicou o Vaca Véia no Instagram. Mais uma vez, o boicote foi malvisto, com pessoas acusando o estabelecimento de ser oportunista.
Boicotes do tipo ocorreram também em outras partes do mundo, como nos EUA e no Canadá. A maioria não foi bem recebida.
O que é boicotar algo?
De acordo com o dicionário Michaelis, boicote é um substantivo masculino que significa o “ato ou efeito de impedir o andamento normal de uma atividade, como recusar-se a trabalhar, a manter relações econômicas, a fazer algo ou a cooperar; boicotagem”.
É muito provável que essas movimentações sejam motivadas pelo coração – e a gente realmente torce para que sim -, mas, em um mundo globalizado e capitalista, a linha que separa a humanidade do desejo de aparecer em meio a tantos concorrentes, e de lucrar, tende a ser tênue. O ativismo então acaba virando uma espécie de desserviço.
Todo mundo pode fazer a sua parte, mas retirar pratos de cardápios ou mudar o nome de bebidas não vai causar impactos diretos na guerra. É mais uma ação de marketing (que acaba se tornando uma publicidade negativa para o estabelecimento) que um boicote no sentido literal da palavra. Pequenas sabotagens podem ser bem-vindas, mas é preciso sempre analisar o contexto da questão. Em meio a conflitos armados, como os que ocorrem no Leste Europeu, boicotes do tipo acabam soando até mesmo desrespeitosos.
É preciso tomar cuidado com atitudes assim, porque, em uma sociedade extremamente polarizada, generalizações são facilmente feitas e movimentos importantes acabam sendo prejudicados e/ou desacreditados por boicotagens vazias.
Vamos dar uma segurada aí, galera!
Last modified: 3 de março de 2023