Após denunciar crimes de sequestro, estupro e feminicídio praticados por garimpeiros ilegais, líder indígena relata que aldeia foi dizimada e povo sumiu
Entenda a polêmica
#CadeOsYanomami: o que se sabe até agora sobre o caso
Nesta quarta-feira (4), a hashtag #CadeOsYanomami explodiu nas redes sociais. Ela diz respeito a uma nova denúncia feita por Júnior Hekurari, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yek’wana, que garantiu que a comunidade Aracaçá (pertencente à Terra Indígena Yanomami), na área de Waikás, em Rondônia, foi totalmente esvaziada. Segundo ele, ao menos 25 indígenas estão desaparecidos.
Hekurari ainda relatou que a comunidade tinha marcas de que fora incendiada, ao que tudo indica, em decorrência de uma tradição Yanomami – mas não descarta-se a hipótese de um incêndio criminoso. O líder indígena falou ainda que os desaparecidos estariam, na verdade, vagando pela floresta em busca de um novo lar, após serem ameaçados por garimpeiros ilegais.
O estopim do caso
No último dia 25, Júnior Hekurari publicou um vídeo nas redes sociais denunciando o estupro e homicídio de uma criança de 12 anos. Segundo relato, a vítima foi sequestrada da comunidade por garimpeiros ilegais quando a maioria dos homens indígenas estava caçando.
Segundo Hekurari, uma mulher adulta e uma criança de 4 anos também foram levadas. Amabas teriam sido jogadas no Rio Uraricoera. A mulher sobreviveu, mas a menor da idade veio à óbito. O corpo, que ficou desaparecido no rio, foi encontrado dias depois, assim como o corpo da vítima de estupro e feminicídio.
A investigação
No dia 27, uma equipe integrada pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal, pela Funai e por membros da Secretaria Especial de Saúde Indígena viajou até a região de Waikás.
As buscas contaram ainda com apoio do Exército e da Força Aérea Brasileira. Contudo, uma nota oficial divulgada disse que a equipe não havia encontrado indícios de práticas criminosas no local.
Registro da comunidade Aracaçá, pertencente à Terra Indígena Yanomami
Segundo Júnior Hekurari, que também acompanhou as buscas, a comunidade já havia sido totalmente esvaziada e estava com os sinais de incêndio. Conforme a tradição Yanomami, os mortos são queimados em uma cerimônia de despedida – assim como as casas, antes de serem abandonadas. O líder indígena acredita que os moradores tenham “cremado” os corpos das crianças de 4 e 12 anos antes de fugirem da aldeia.
As suspeitas
Além das autoridades terem ignorado esses sinais, Júnior Hekurari garante que os indígenas foram ameaçados por garimpeiros para deixarem o lugar. Além disso, o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yek’wana afirma que algumas testemunhas receberam ouro para que não denunciassem os crimes para a polícia.
Inclusive, a Polícia Federal, durante as buscas, teria encontrado um entreposto comercial e um posto de gasolina clandestinos na região. Ambos foram queimados com o intuito de espantar os garimpeiros, mas Hekurari assegura que eles permanecem por lá.
Uma história antiga
O garimpo ilegal ocorre em Terras Yanomami desde os anos 80, de acordo com levantamento divulgado pela Hutukara Associação Yanomami. Hoje, estima-se que mais de 20 mil garimpeiros ilegais atuem na região, que corresponde à maior reserva indígena do Brasil, com mais de 30 mil moradores espalhados em 360 comunidades.
O garimpo ilegal é uma das principais causas do desmatamento e, em 2020, ele destruiu 73% de áreas protegidas da Amazônia Legal, conforme estudo do Greenpeace.
Além da questão ambiental, a prática acaba compactuando com outros crimes, como o tráfico de drogas, o trabalho escravo e o feminicídio.
Revoltados com a situação e com o desaparecimentos dos indígenas, famosos e anônimos protestaram online usando a hashtag #CadeOsYanomami. “Isso é um absurdo! Uma comunidade indígena inteira sumiu. Porque a mídia não está falando sobre isso? Onde estão os 25 Yanomami?”, questionou Ludmilla no Twitter.
A movimentação surtiu efeito! No mesmo dia, foi divulgado que uma equipe de parlamentares do Senado e da Câmara dos Deputados viajará para Boa Vista, capital de Roraima, para averiguar as denúncias na próxima quinta-feira (12). Neste meio tempo, o caso seguirá sendo investigado pelas autoridades e acompanhado de perto por Júnior Hekurari.
Last modified: 3 de março de 2023