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13 de julho de 2022
Giovanni Quintella sedava em excesso suas vítimas para então estuprá-las, mas será que é mesmo necessário e seguro sedar gestantes durante o parto?
Entenda a polêmica
A sedação em cesarianas é realmente necessária?
Na tarde desta terça-feira (12), a prisão preventiva de Giovanni Quintella Bezerra, médico anestesista em formação preso em flagrante por estuprar uma mulher grávida durante cirurgia cesariana, foi decretada pela juíza Rachel Assad, durante Audiência de Custódia que ocorreu no Rio de Janeiro.
“A gravidade da conduta é extremamente acentuada. Tamanha era a ousadia e intenção do custodiado de satisfazer a lascívia, que praticava a conduta dentro de hospital, com a presença de toda a equipe médica, em meio a um procedimento cirúrgico. Portanto, sequer a presença de outros profissionais foi capaz de demover o preso da repugnante ação, que contou com a absoluta vulnerabilidade da vítima, condição sobre a qual o autor mantinha sob o seu exclusivo controle, já que ministrava sedativos em doses que assegurassem a absoluta incapacidade de resistir”, disse a juíza, que negou a liberdade provisória ao acusado, indiciado por estupro de vulnerável.
De acordo com Bárbara Lomba, delegada responsável pelo caso, o profissional de saúde está sendo investigado por cinco supostos crimes de estupro, além daquele cometido em flagrante. Para a autoridade, “tudo indica que ele era um criminoso em série”.
Se os novos crimes forem confirmados pela Justiça, a pena de Giovanni, que por ora pode variar de 8 a 15 anos de reclusão, deve aumentar. “Em um parto onde a mulher, além de anestesiada, dava luz ao seu filho – em um dos prováveis momentos mais importantes de sua vida – o custodiado, valendo-se de sua profissão, viola todos os direitos que ela tinha sobre si mesma”, declarou a juíza.
Ainda na tarde desta terça, o Universa, que teve acesso a partes do processo, divulgou que uma das testemunhas – uma enfermeira do Hospital da Mulher Heloneida Studart, onde o crime aconteceu – disse que foi ameaçada pelo anestesista quando questionou a quantidade de sedativo que ele está aplicando nas gestantes. “Por quê? Você também quer?”, perguntou à profissional.
Esta foi justamente uma das principais questões a levantar suspeitas e fazer com que a equipe de enfermagem do hospital, que fez o flagrante do crime de estupro de vulnerável, colocasse uma câmera escondida no centro cirúrgico.
Para especialistas, “a sedação em partos é extremamente atípica e rara em qualquer tipo de parto, seja normal ou cesárea, e contraria as práticas médicas recomendadas”, conforme alerta reportagem da Folha de S. Paulo, escrita pela repórter Isabela Palhares.
Para Silvana Quintana, vice-presidente da Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia de São Paulo), a sedação é uma prática excepcional, usada, por exemplo, quando o feto está morto. “Trabalho há 33 anos como obstetra e conto nos dedos os casos em que a mãe estava sedada”, revelou.
Marcos Albuquerque, presidente da SBA (Sociedade Brasileira de Anestesiologia), explica que a sedação só pode ocorrer com o consentimento da gestante – caso contrário, pode ser considerada uma violência obstétrica – e que a dosagem precisa ser mínima. “A prioridade é sempre não sedar, mas, em alguns casos, pode se recorrer a uma sedação leve para que a mãe possa relaxar e minimizar o estresse do parto, jamais para retirar a consciência”, pontuou.
A sedação em excesso, além de antiética, pode trazer riscos ao feto, que pode acabar nascendo com depressão respiratória, tendo que precisar de internação na UTI neonatal. “A sedação durante o parto é algo tão excepcional e com tantas contraindicações que ocorre um caso por ano em uma maternidade de grande porte”, declarou o anestesiologista José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM (Associação Paulista de Medicina), em entrevista à Folha, escancarando a preferência dos médicos pela não sedação – que é, inclusive, uma recomendação médica internacional.
Last modified: 3 de março de 2023