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Written by 11:49 Entretenimento

Brasil: o Inferno é aqui para as mulheres

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12 de julho de 2022

Giovanni Quintella Bezerra é o nome do médico anestesista em formação que foi preso em flagrante por estuprar uma mulher grávida durante cesariana

Entenda a polêmica

Brasil: o Inferno é aqui para as mulheres

A semana começou com a notícia de que um médico anestesista havia sido preso em flagrante por cometer um estupro de vulnerável em uma mulher grávida durante uma cesariana.

O caso ocorreu na madrugada da última segunda-feira (11), no Hospital da Mulher, em Vilar dos Teles, em São João de Meriti (RJ). Giovanni Quintella Bezerra, de 32 anos, anestesista em formação, estuprou a vítima por cerca de dez minutos, introduzindo o pênis na boca da gestante, que estava dando à luz.

A equipe médica responsável pela cesárea já vinha desconfiando do comportamento do profissional de saúde, e decidiu colocar um celular dentro de um armário com porta transparente para registrar Quintella durante a cirurgia. 

“Essa equipe vinha suspeitando dos procedimentos que o médico vinha adotando em outras cirurgias. Principalmente a sedação desnecessária e a tentativa de dificultar a visão de outros médicos de uma parte do corpo da vítima, onde ele atuava, do pescoço para cima. Ele usava uma roupa muito grande e comprida que também não era muito comum usar e sempre usava essa sedação que a equipe avaliava como desnecessária e começou a suspeitar dele”, explicou Bárbara Lomba, delegada responsável pelo caso ao G1.

O médico foi indiciado por estupro de vulnerável, cuja pena varia de 8 a 15 anos de prisão. O inquérito deve durar cerca de dez dias e a Polícia Civil recolhe depoimentos de testemunhas para entender se Giovanni teria praticado outros crimes. 

A equipe de enfermagem do hospital disse em entrevista ao Jornal Nacional da última segunda que desconfiou da quantidade de sedativo que o médico estava aplicando nas gestantes e do local em que ele ficava durante as cirurgias, numa posição em que não conseguia ser visto pelos profissionais que estavam do outro lado do lençol.

O crime é mais um pra conta da assustadora estatística do que é ser mulher no Brasil, país onde um estupro ocorre a cada dez minutos e um feminicídio a cada sete horas, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 

“Estuprar uma mulher em trabalho de parto com outros profissionais na sala só demonstra a crença que estupradores tem na impunidade”, escreveu a vereadora Erika Hilton no Twitter. 

Quando questionada sobre o que é possível fazer para mudar essa realidade, a parlamentar disse que é preciso lutar contra estruturas de poder e a impunidade. “Nem parindo em um hospital estamos seguras”, lamentou Elika Takimoto, doutora em Filosofia e pré-candidata a Deputada Estadual pelo Rio de Janeiro.

O crime ocorre pouco tempo depois de uma criança de 11 anos ser impedida temporariamente pela Justiça de realizar o aborto legal, após engravidar vítima de um estupro de vulnerável, e da atriz Klara Castanho publicar uma carta aberta dizendo que também havia sido estuprada e engravidado do estuprador, optando em entregar o bebê para a adoção voluntária. 

Todos esses episódios envolvem o controle dos corpos femininos, e o caso de Giovanni Quintella Bezerra escancara isso, uma vez que temos um homem branco abusando de sua posição de poder para violentar uma mulher em situação de vulnerabilidade, dopando-a de maneira exagerada para objetificar seu corpo e cometer um dos crimes mais sórdidos que alguém pode cometer.

Bem-vindos ao Brasil, país onde mulheres são diariamente estupradas pela sociedade em que vivem. 

Last modified: 3 de março de 2023
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