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26 de setembro de 2022
O uso compulsório do hijab voltou a ganhar os noticiários após a morte de uma jovem de 22 anos, presa e morta em Teerã, no Irã, pelo uso indevido do véu
Entenda a polêmica
O Caso Mahsa Amini e a onda de protestos no Irã
Se você usou as redes sociais na última semana, e navegou mesmo que minimamente na internet, deve ter se deparado com a onda de protestos que está ocorrendo no Irã e avançou para outras partes do mundo.
O estopim foi a morte de uma jovem de 22 anos chamada Mahsa Amini, que estava passeando com a família por Teerã, capital do país, quando foi detida pela Gasht-e Ershad, Patrulha de Orientação, conhecida popularmente como “Polícia da Moralidade”. O episódio aconteceu no último dia 16.
Segundo as autoridades, a garota, que estava prestes a entrar na universidade e não tinha antecedentes de ativismo sociopolítico, foi presa por usar o hijab de maneira indevida.
Amini, nascida no Curdistão iraniano e de passagem por Teerã, foi levada para a delegacia. A família da jovem acusa policiais de espancamento, antes que ela fosse levada para uma aula de reforço sobre a necessidade de usar corretamente o véu.
A Patrulha de Orientação nega, só que, três dias após a prisão, Mahsa Amini veio a óbito em um hospital local, onde estava internada em coma. As autoridades disseram que ela teve um infarto, contudo não é o que testemunhas e a família da vítima dizem.
O caso repercutiu nas redes sociais e protestos começaram a ser organizados no Irã, que foram prontamente e violentamente combatidos pelo Estado.
Até o momento, estima-se que mais de 700 prisões tenham sido feitas e mais de 40 pessoas tenham morrido. Ao invés de tentar controlar a situação, Ebrahim Raisi, presidente iraniano, deu cartão verde para que a polícia atue de maneira ainda mais violenta, se necessário, contra “aqueles que se opõem à segurança e tranquilidade”, na fala do político.
Numa tentativa de frear as manifestações e censurar a população, o Estado bloqueou aplicativos como Instagram e WhatsApp no país. Manifestantes ainda afirmam que a mídia local, possivelmente também vítima de censura, não está revelando o real motivo dos protestos.
É importante ressaltar que as manifestações em si são pedindo justiça pela morte de Mahsa Amini, é evidente, mas são também um apelo pela liberdade de escolha das mulheres muçulmanas – não simplesmente contra o uso do hijab em si.
Nós, do Ocidente, costumamos ter um olhar enviesado para toda essa questão envolvendo o uso de véu e similares. Entretanto, muitas mulheres usam essas peças por escolha e por questões religiosas, uma vez que o hijab significa uma submissão à Deus, de acordo com a religião Islâmica.
Agora, a questão é que, embora a religião recomende o uso do véu, cabe à mulher fazer essa escolha – ou deveria caber. Não é o que acontece, porque o debate se torna político, uma vez que a lei Islâmica se apossou de falas religiosas para controlar corpos femininos.
Portanto, o uso do hijab é uma questão religiosa quando a escolha de usá-lo parte da mulher, tornando-se uma questão impositiva, compulsória e política quando leis impedem que a mulher faça essa escolha por si própria.
No país, as mulheres devem usar véu cobrindo todo o cabelo e pescoço e não podem usar roupas curtas nem calças apertadas ou rasgadas, como jeans do modelo destroyed. Nas ruas, centenas de mulheres têm participado dos protestos, cortando seus cabelos e queimando hijabs em espaços públicos.
Last modified: 3 de março de 2023