A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta quarta-feira (3), a Operação Venire, que investiga ajudantes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por suspeita de fraude em dados vacinais. Segundo a PF, integrantes do esquema teriam adulterado cartões de vacinação diretamente nos sistemas do Ministério da Saúde, entre eles o do próprio Bolsonaro e o de sua filha Laura, de 12 anos, com o objetivo de burlar normas sanitárias na época da Covid-19. Investigadores cumpriram um mandado de busca e apreensão na casa do ex-presidente, no bairro Jardim Botânico, em Brasília, e apreenderam seu celular. Seis pessoas foram presas, e outros 15 mandados de busca e apreensão estão sendo cumpridos.
Um dos detidos foi o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, suspeito de participar do esquema de milícias digitais. Ele teria pedido para o ex-vereador do Rio de Janeiro, Marcello Siciliano (Progressistas), alterar o seu próprio cartão de vacinação e os certificados de sua mulher, Gabriela Santiago, e de sua filha.
Na casa de Cid, foram apreendidos mais de R$ 190 mil em dinheiro vivo. O tenente-coronel controlava os dados de Bolsonaro no ConecteSUS usando um IP atribuído ao próprio Cid. Ele alega que o ex-presidente sabia da fraude.
Bolsonaro negou todas as acusações e se recusou a prestar demoimento para a polícia.
A PF informou que inserções falsas ocorreram no sistema do Ministério da Saúde entre novembro de 2021 e dezembro de 2022.
No dia 21 de dezembro, foram atribuídas a Jair Bolsonaro a aplicação de duas doses do imunizante da Pfizer. No dia 27, os dados foram excluídos pela servidora Claudia Helena Acosta Rodrigues Da Silva sob a justificativa de “erro” no sistema.
Outra dose foi atribuída a Bolsonaro posteriormente, do imunizante da Janssen. No meio do caminho, foram emitidos quatro certificados de vacinação na conta do ex-presidente. As impressões ocorreram dentro de seu próprio gabineto no Planalto. Para a PF, todos “tinham plena ciência da inserção fraudulenta dos dados de vacinação, se quedando inertes em relação a tais fatos até o presente momento”.
O principal intuito era adulterar cartões de vacinação para burlar regras sanitárias.”Com isso, tais pessoas puderam emitir os respectivos certificados de vacinação e utilizá-los para burlarem as restrições sanitárias vigentes impostas pelos poderes públicos (Brasil e Estados Unidos) destinadas a impedir a propagação de doença contagiosa”, explicou a polícia em nota.
O ex-presidente Jair Bolsonaro viajou para os EUA no dia 30 de dezembro de 2022, pouco tempo antes da cerimônia de posse de Lula (PT), que aconteceria no dia 1º de janeiro, em Brasília.
Em coletiva dada em frente à sua casa, após ser alvo da operação, Bolsonaro disse que entrou no país americano sem precisar mostrar o certificado de vacinação. “Nunca me foi pedido cartão(…) Não existe adulteração de minha parte”, disse.
O ex-presidente, que estava dormindo quando a polícia chegou, falou que optou por não tomar a vacina após ler a bula da Pfizer. “Foi uma decisão pessoal”, justificou.
No Twitter, a ex-primeira-dama se manifestou sobre o mandado de busca e apreensão, e disse que ninguém estava sabendo o motivo, nem mesmo o advogado da família. “Ficamos sabendo, pela imprensa, que o motivo seria “falsificação de cartão de vacina” do meu marido e de nossa filha Laura. Na minha casa, apenas eu fui vacinada”, escreveu.
A declaração não foi bem vista, uma vez que confirmou que Jair Bolsonaro realmente não se vacinou antes de viajar para os EUA, que exige que o comprovante de vacinação contra a Covid-19 seja apresentado na hora da imigração.
Falsificar certificados vacinais é crime e pode render até 10 anos de prisão.
Moraes determina quebra de sigilo
Após todas as polêmicas envolvendo o nome de Bolsonaro, sua família e aliados, Alexandre de Moraes tirou o sigilo decisão que autorizou as buscas na casa do ex-presidente, assim como a apreensão de armas, munições e passaportes.
O ministro do Supremo Tribunal Federal disse ser plausível existir uma “organização criminosa” que atuou na adulteração de dados no sistema do Ministério da Saúde.
“Diante do exposto e do notório posicionamento público de Jair Messias Bolsonaro contra a vacinação, objeto da CPI da Pandemia e de investigações nesta Suprema Corte, é plausível, lógica e robusta a linha investigativa sobre a possibilidade de o ex-presidente da República, de maneira velada e mediante inserção de dados falsos nos sistemas do SUS, buscar para si e para terceiros eventuais vantagens advindas da efetiva imunização, especialmente considerado o fato de não ter conseguido a reeleição nas eleições gerais de 2022″, escreveu Moraes.
Preso na Operação Venire diz saber quem mandou matar Marielle
Ailton Barros (PL), candidato a deputado estadual pelo Rio de Janeiro em 2022, foi detido na manhã desta quarta-feira (3) pela Polícia Federal, suspeito de participar do esquema de adulteração de certificados vacinais de Covid-19.
Segundo informações concedidas pela polícia ao g1 e confirmadas pelo Metrópoles, o político, que durante a campanha se apresentava como o “01 do Bolsonaro”, disse em mensagens conhecer o mandante da morte de Marielle Franco.
A vereadora e ativista foi morta há cinco anos, no dia 14 de março de 2018, no centro do Rio de Janeiro. O motorista Anderson Gomes, que dirigia o carro de Marielle na ocasião, também morreu.
Quem são os principais alvos da Operação Venire?
A lista dos alvos da operação deflagrada nesta quarta-feira (3) pela Polícia Federal é grande. Dentre os 16 nomes, o de Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente da República.
Até o momento, seis alvos já foram presos preventivamente, como Ailton Gonçalves Moraes Barros, que citamos anteriormente, e Mauro Cid Barbosa.
Cid foi promovido a tenente-coronel em 2022 e foi ajudante de ordens de Bolsonaro durante a gestão do ex-presidente. Ele é também investigado no escândalo das joias, por ter feito tentativas de liberar o pacote apreendido pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos.
O sargento do Exército Luís Marcos dos Reis, ex-integrante da equipe de Mauro Cid, também foi detido. Ele trabalhou como supervisor da Ajudância de Ordens durante o governo Bolsonaro e era responsável pelas demandas pessoais do ex-presidente.
Outros dois alvos detidos eram seguranças de Bolsonaro. Max Guilherme trabalhou por oito anos com o ex-presidente. Ele é um policial militar aposentado e já atuou como sargento do Bope. Em 2022, ele chegou a pedir exoneração do cargo para se candidatar a deputado pelo Rio de Janeiro, mas acabou não se elegendo. No último dia 1º, ele acompanhou Bolsonaro na abertura da Agrishow, em Ribeirão Preto.
O militar Sérgio Cordeiro já não era mais tão próximo do ex-presidente, mas era dono do imóvel onde Bolsonaro fazia suas famosas lives semanais durante sua gestão.
João Carlos de Sousa Brecha também teve a prisão preventiva decretada. Ele já foi chefe de gabinete na Alerj e, desde 2017, atua como secretário municipal de Governo de Duque de Caxias, município do Rio de Janeiro envolvido em diversos escândalos durante a pandemia de Covid-19.
Last modified: 3 de maio de 2023