Após comprar 19 toneladas de bisteca para enviar para indígenas da Terra Yanomami – e nunca entregar -, o governo Bolsonaro autorizou também a compra de R$ 4,4 milhões em sardinha e linguiça, ignorando mais uma vez a dieta dos povos originários.
A compra também aconteceu durante a pandemia de coronavírus, que intensificou a crise sanitária das comunidades indígenas. Segundo apuração do Estadão, as mercadorias foram adquiridas da empresa H. S. Neves Junior, aberta em 2020, três meses antes da assinatura do primeiro contrato.
A empresa, com sede em Boa Vista, pertence a Helvercio Sevalho Neves Junior, de 26 anos, que, em janeiro deste ano, precisou devolver R$ 3 mil à União após receber ilegalmente o auxílio emergencial durante a pandemia, uma vez que sua empresa liderava contratos com as Forças Armadas e com o governo de Roraima, e faturava milhões.
Em 2021, o Ministério Público ouviu Elayne Rodrigues Maciel, coordenadora da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami, que cravou: “Os yanomamis não comem sardinha nem calabresa”. Ainda assim, o governo não só autorizou a compra como realizou o maior gasto de todos os tempos em produtos não consumidos pelos indígenas, em transações sem licitação e sem confirmação de entrega.
Por causa disso, na época, o MP pediu a condenação da União. O pedido foi acatado pela Justiça, mas, aparentemente, nada aconteceu.
Ao Estadão, a Funai disse que vai investigar as compras de bisteca, mas, por ora, não falou nada sobre o caso das sardinhas e calabresas adquiridas.
Uma servidora do órgão revelou ao jornal que sabia que essas compras eram “um desperdício do dinheiro público”, mas que seguia ordens de superiores para assinar os contratos.
Tags:Alimentação, Jair Bolsonaro, Povos Indígenas Last modified: 15 de maio de 2023
