O relatório da Polícia Federal revela que o tenente-coronel Mauro Cid armazenou em seus celulares um arsenal teórico que poderia ser usado para justificar uma intervenção das Forças Armadas após a eleição do ano passado. O documento também aponta que Cid participou de conversas sobre um possível golpe de Estado e que sua esposa, Gabriela, esteve envolvida na mobilização de manifestações em frente a quartéis. O objetivo dessas ações seria impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva e manter Jair Bolsonaro na Presidência. Cid foi ajudante de ordens de Bolsonaro, acompanhando-o como secretário particular.
O relatório da PF foi encontrado por acaso durante uma operação relacionada a uma suposta fraude no cartão de vacinação de Bolsonaro, na qual Cid foi preso e seus celulares apreendidos. A análise desses aparelhos ainda está em curso, mas o conteúdo encontrado foi considerado relevante o suficiente para a apresentação de um relatório parcial.
Entre os documentos encontrados, chamou a atenção dos investigadores uma série de fotografias de um texto que mencionava a declaração do estado de sítio e a decretação da Operação de Garantia da Lei e da Ordem. Esse documento parece ser a minuta de um decreto de estado de sítio, que permite ao presidente restringir liberdades e direitos em situações de comoção grave de repercussão nacional.
Além disso, foram encontrados diálogos explícitos sobre um golpe ou manifestações em apoio aos militares. Um dos diálogos envolve o coronel Jean Lawand Junior, que pede a Cid para convencer Bolsonaro a ordenar a intervenção das Forças Armadas. Também foi identificado um grupo de WhatsApp chamado “Dosssss!!!”, composto por oficiais superiores da ativa, que discutiam intervenção e manifestações para impedir a posse de Lula.
No celular de Gabriela, foram encontradas conversas com Ticiana Villas Bôas, filha de Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, sobre logística e convocação de protestos a favor de Bolsonaro. Outro celular examinado pertence ao sargento Luis Marcos dos Reis, também ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que manifestou apoio a manifestantes acampados em frente a um batalhão em Goiânia.
Essas descobertas indicam uma série de documentos e diálogos relacionados à possibilidade de ação das Forças Armadas como poder moderador em eventuais conflitos com outros poderes, como o Judiciário e o Legislativo. O relatório da PF mostra um esforço para fundamentar essa ação, utilizando interpretações heterodoxas da Constituição.
Tags:Jair Bolsonaro, Mauro Cid, Polícia Federal Last modified: 18 de junho de 2023