Uma empregada de 49 anos foi resgatada da casa de um desembargador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina sob suspeita de viver em condição análoga à escravidão por 37 anos. O resgate aconteceu na semana passada, na casa do magistrado, em Florianópolis.
Neste domingo (11), o programa Fantástico, da TV Globo, revelou depoimentos de ex-funcionárias que trabalharam na residência do desembargador Jorge Luiz de Borba, um homem branco, revelando mais detalhes sobre a vida da vítima, uma mulher negra. Ela tem deficiência auditiva e também não fala.
Uma cuidadora que trabalhou na residência entre 2020 e 2021 afirmou que a empregada não recebia salário, mesmo desempenhando tarefas domésticas, e que os cachorros da família eram tratados melhor do que ela. Outra faxineira que trabalhou na casa do desembargador entre 2015 e 2016 relatou, em seu depoimento, que a funcionária resgatada era tratada como uma “mucama”, um termo que se refere a mulheres escravizadas que realizavam serviços domésticos.
Já as funcionárias atuais da residência do desembargador afirmaram que a vítima dormia dentro da casa, almoçava com a família e não era obrigada a realizar trabalhos domésticos.
As investigações revelaram um quarto localizado na parte externa da casa do desembargador, que supostamente pertencia à mulher escravizada, o que contradiria o depoimento das funcionárias atuais. Além disso, testemunhas confirmaram que a vítima não era tratada como um membro da família, mas sim como uma empregada doméstica. A suspeita é de que a família não tenha fornecido o apoio necessário à vítima para aprender a linguagem de sinais, utilizada pelos surdos.
Em uma nota divulgada no domingo, o desembargador e sua família anunciaram que pretendem solicitar judicialmente a filiação afetiva da vítima, buscando estabelecer uma relação familiar baseada no afeto. Essa medida permitiria que a empregada fosse formalmente considerada parte da família e tivesse direitos hereditários. O desembargador afirmou que colaborará com as investigações para esclarecer a situação e retomar o convívio familiar.
A Polícia Federal tomou o depoimento da funcionária na última terça-feira, quando também realizou buscas na casa do desembargador. Segundo o Ministério Público do Trabalho, a vítima não recebia salário, enquanto o desembargador possui um salário mensal de aproximadamente R$ 37.500. Jorge Luiz de Borba é desembargador há 15 anos e antes disso foi advogado por quase 30 anos, além de ter sido presidente da subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Blumenau.
Tags:Racismo, Santa Catarina, Trabalho análogo à escravidão Last modified: 12 de junho de 2023