O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou “profunda gratidão” à África pela contribuição durante o período da escravidão no Brasil e propôs retribuir ao continente através de transferência tecnológica e capacitação profissional. Durante sua visita ao arquipélago africano de Cabo Verde, Lula anunciou sua intenção de fortalecer os laços com os países africanos, abrir novas embaixadas e colaborar para o desenvolvimento da indústria e agricultura na região.
Lula destacou a importância dos estudantes cabo-verdianos no Brasil e mencionou que o país poderia ter ajudado os africanos com a produção de vacinas contra a Covid, caso não tivesse enfrentado um governo negacionista anteriormente. O presidente brasileiro pretende realizar mais visitas a países africanos no próximo ano e buscar uma agenda comum de cooperação.
A declaração de Lula sobre a escravidão gerou polêmica, como em março passado, quando ele mencionou a miscigenação como um lado positivo do período, recebendo críticas do movimento negro. Essa não é a primeira vez que suas declarações improvisadas causam desconforto, como aconteceu anteriormente ao abordar a Guerra da Ucrânia.
Apesar das polêmicas, Lula foi o presidente brasileiro com a relação mais próxima com a África e com líderes lusófonos, como o presidente cabo-verdiano, mostraram entusiasmo com a sua volta ao poder, acreditando que o Brasil poderá contribuir para a resiliência econômica e inclusiva do continente africano.
Lula critica Boric por posicionamento sobre a guerra
Em viagem, Lula também criticou o presidente chileno, Gabriel Boric, por querer incluir uma menção à Rússia no comunicado final da cúpula Celac-UE em Bruxelas. Lula chamou Boric de “sequioso e apressado”, afirmando que sua falta de costume em participar dessas reuniões pode levá-lo a agir dessa forma. O documento conjunto expressou preocupação com a Guerra da Ucrânia, mas não citou explicitamente a Rússia.
Lula defendeu que a condição essencial para a paz no conflito é o fim das hostilidades e que, depois disso, as partes envolvidas deveriam se sentar à mesa para discutir a questão. Ele compreende o nervosismo da União Europeia em relação à guerra, mas acredita que a distância do Brasil permite uma abordagem mais tranquila para construir a paz.
Boric, por sua vez, não se sentiu ofendido com as declarações de Lula e reiterou a posição do Chile de condenar a invasão russa na Ucrânia. Ambos os líderes de esquerda têm demonstrado divergências também em relação ao regime da Venezuela. Enquanto Lula propôs a criação de um “clube da paz” para o fim do conflito ucraniano, a ideia não encontrou apoio no exterior.
‘A gente não vai ceder’, diz Lula sobre acordo com União Europeia
Em entrevista coletiva em Bruxelas, o presidente Lula também afirmou que o documento adicional da União Europeia sobre o acordo do Mercosul era agressivo e que o Brasil não vai ceder a ameaças. Lula disse que enviará uma nova carta à UE em duas semanas, reiterando que não aceitará sanções econômicas caso o país não cumpra metas ambientais. Além disso, o presidente brasileiro destacou a importância das compras governamentais como um instrumento de desenvolvimento interno para pequenas e médias empresas.
Lula também tratou sobre o meio ambiente, reafirmando o compromisso de acabar com o desmatamento na Amazônia até 2030. Ele defendeu que o Brasil possui um potencial excepcional em energia renovável e destacou o compromisso soberano de transformar a Amazônia em um centro de desenvolvimento verde, compartilhando a exploração científica com outras nações interessadas.
Sobre a Venezuela, Lula mencionou que a situação do país será resolvida quando governo e oposição chegarem a um acordo sobre as regras e datas para a eleição presidencial em 2024, o que poderá resultar na diminuição das sanções impostas pelos Estados Unidos. A cúpula Celac-UE foi considerada exitosa por Lula, que destacou o interesse dos países da União Europeia em fazer investimentos na América Latina, anunciando um investimento de € 45 bilhões.
Last modified: 19 de julho de 2023