Criança morre durante o Carnaval do Rio após ser imprensada em um poste por carro alegórico que não tinha passado pela vistoria; saiba mais a seguir
Entenda a polêmica
Quem é culpado pela morte de Raquel Antunes?
A morte da menina Raquel Antunes Silva, de 11 anos, vem repercutindo na Mídia e nas redes sociais. A garota morreu no início da tarde da última sexta-feira (22), após ter sofrido um acidente dois dias antes, na Rua Frei Caneca, no Estácio, Rio de Janeiro.
A tragédia envolveu o carro alegórico “Embarque no famoso 33”, da escola de samba Em Cima da Hora, da Série Ouro [antigo Grupo de Acesso]. Já fora do Sambódromo Marquês de Sapucaí, a alegoria estava sendo rebocada. Em certo momento, ela teria parado e algumas crianças subido nela para tirar foto. Raquel teria sido uma delas.
O que aconteceu com Raquel Antunes?
A carioca de 11 anos de idade foi imprensada pelo carro alegórico em um poste. Com fraturas expostas, ela foi levada às pressas para o Hospital Souza Aguiar.
Raquel ficou internada no CTI pediátrico em estado gravíssimo até vir a óbito na tarde de sexta, após sofrer uma hemorragia interna.
Anteriormente, a criança havia sido operada por cerca de 6h, mas já estava bastante debilitada. A perna direita chegou a ser amputada, e Raquel sofreu uma parada cardiorrespiratória, um traumatismo no tórax e respirava por aparelhos.
O último adeus
O corpo de Raquel foi enterrado no último sábado (23) e, durante o velório, a mãe, Marcela Portelinha, passou mal.
Em entrevista para a Imprensa, Daiane da Costa, uma amiga de Marcela, disse que ela desmaiou em diversos momentos durante esses últimos dias. O trauma sofrido foi grande, ainda mais para uma mulher grávida.
Daiane ainda contou que tudo aconteceu em poucos minutos. O pessoal parou para comer um lanche na pracinha por onde passam os carros alegóricos na saída do Sambódromo, e Raquel foi brincar com uns amiguinhos. “Quando a mãe olhou, ela não estava lá. Logo após, foi coisa de 5 minutos, já veio o irmão avisando que ela foi atropelada. O carro alegórico espremeu ela no poste. Ela estava bem encostada pra ver os carros passarem”, disse Aline da Mota, outra amiga de Marcela, ao G1.
A mãe de Raquel sendo amparada durante velório da filha (Foto: Lucas Tavares/Agência O Globo)
Uma simples fatalidade?
Wallace Palhares, presidente da Liga-RJ, posicionou-se sobre o acidente e falou que “a Liga não tem que dar suporte à família porque ali é uma área fora do Sambódromo. O que acontece ali é cultural e precisa de polícia”.
Ele ainda declarou que, naquela região, onde os carros são rebocados, muitos roubos acontecem – dando a entender que Raquel e sua família não tinham de estar ali.
A declaração foi muito malvista e Palhares voltou atrás após descobrir que a criança havia morrido. “A Liga-RJ lamenta profundamente a morte de Raquel Antunes, se solidariza com familiares e amigos da jovem, e segue acompanhando o caso e colaborando com as autoridades”, emitiu em nota.
Quem vai pagar?
O Corpo de Bombeiros revelou que apenas quatro das oito escolas da Série Ouro solicitou a vistoria de seus carros alegóricos, uma obrigatoriedade para que tenham assim aval para desfilarem. A agremiação Em Cima da Hora não foi uma delas. Portanto, segundo as autoridades, não havia recebido autorização do órgão competente para entrar na Avenida.
Além disso, o carro “Embarque no famoso 33” havia dado problema já na concentração, momento em que precisou se movimentar cerca de sete vezes para que conseguisse entrar na Avenida. Durante o desfile, a alegoria também apresentou falhas.
O carro foi apreendido por determinação da delegada Maria Aparecida Salgado Mallet, titular da 6ª DP, e foi analisado pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli.
Testemunhas também estão sendo ouvidas, como o motorista José Crispim Silva Neto, coordenador de dispersão da Liga-RJ. Ele disse que, quando o carro começou a se mover novamente, gritos de “tem uma criança nele” foram ouvidos, mas que tudo ocorreu muito depressa.
Ele disse que outras crianças estavam em cima do carro, mas conseguiram saltar antes. Raquel teria sido a única a não ter conseguido. Crispim também isentou-se da culpa ao dizer que, apesar de ser motorista, não é sua função guiar o reboque e estava lá apenas para acompanhar o carro.
Rosana Cipriano, promotora-titular da infância da Promotoria da Tutela Coletiva da Infância e da Juventude, alertou que, desde 2019, há um documento que orienta as escolas a zelarem pela proteção dos menores de idade durante o Carnaval. “Damos ciência a todos sobre suas responsabilidades, fazendo um papel preventivo estratégico. Isso faz parte do nosso cuidado com o público infanto-juvenil. Cobramos resposta de tudo. O que aconteceu com a Raquel nos deixou consternados”, declarou em entrevista para o jornal O GLOBO.
A agremiação Em Cima da Hora não se posicionou oficialmente até o momento, mas classificou o acidente como uma fatalidade e disse estar “esclarecendo alguns pontos junto à Liga e às autoridades”. A polícia segue investigando o caso e a família da garota clama por Justiça.
Last modified: 3 de março de 2023