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Written by 11:29 Brasil

Homens também engravidam? Novos emojis geram polêmica

Tudo o que você precisa saber para começar o dia bem-informado

28 de abril de 2022

O teclado de emojis agora tem figuras de gênero neutro e de homens grávidos, que causaram o maior fuzuê nas redes sociais. Afinal, homem pode dar à luz?

Entenda a polêmica

Emojis de homens grávidos são adicionados ao teclado

Recentemente, 37 novas figurinhas foram adicionadas ao teclado de emojis. Com foco na representatividade, o usuário agora pode usar stickers de homens grávidos. Eles, como era de se esperar, deram o que falar!

Apesar de ter sido celebrado por muitos, especialmente pela comunidade LGBTQIA+, que aplaudiu a iniciativa de inclusão de pessoas trans ao Emojipedia, outros fizeram pouco caso da atualização. 

No Twitter, choveram comentários ironizando os desenhos, dizendo que eram homens com barriga de cerveja ou de verme, ou ainda homens gordos. Discussões sobre ideologia de gênero e “loucuras identitárias” também entraram em pauta.

Afinal, homem pode engravidar?

Se formos levar em conta questões estritamente biológicas, para engravidar é necessário ter um sistema reprodutor feminino em idade fértil, uma vez que o feto é desenvolvido no útero. 

Contudo, quando o assunto é identidade de gênero, a questão biológica não dita o que é ser homem e mulher. Isso porque o gênero não está apenas ligado à anatomia dos órgãos genitais e a identidade é a maneira como o indivíduo se identifica, ou seja, como se reconhece socialmente. 

Além disso, há diversas identidades de gênero, como masculino, feminino, transgênero, gênero neutro, não-binário, agênero, pangênero, e por aí vai. Dizer que homens não engravidam é ignorar completamente a existência de homens trans, que se identificam com o gênero masculino, mas possuem o aparelho reproduor feminino e podem possuir o órgão genital feminino, caso não tenham passado pela cirurgia de redesignação sexual. 

Um novo arranjo familiar

Em dezembro de 2021, Lourenzo Duvale, um homem trans, deu à luz em São Paulo Apolo, seu filho com a cantora Isis Broken, uma mulher trasgênero. “Apolo, sua família transcentrada te ama muito!”, escreveu o papai no Instagram, após o nascimento do primogênito. 

 

Lourenzo e Isis celebrando a gravidez (Foto: Alexandre Battibugli/Veja SP)

Em entrevista à VEJA, o motorista disse já ter enfrentado diversos episódios de transfobia, inclusive no trabalho. “Nós sempre existimos, apenas fomos apagados da historiografia”, desabafou o motorista. 

Nos últimos dois anos, o Instituto Brasileiro de Transmasculinidades registrou o nascimento de cerca de 30 bebês gerados por homens trans no país. “A possibilidade de uma gravidez assim não é nenhuma novidade, mas ela vem ganhando visibilidade à medida que a transexualidade é mais discutida e aceita”, explicou o psicólogo Ricardo Martins, do ambulatório para saúde integral de travestis e transexuais do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids de São Paulo, também para a revista VEJA. 

LGBTfobia não é opinião

Em junho de 2019, o STF criminalizou a LGBTfobia por oito votos a três, incluindo a prática na lista de crimes resultantes de preconceito de raça ou cor, que são inafiançáveis e imprescritíveis.

Apesar desse gigante e importante passo para a sociedade, uma vez que todos os corpos e vivências importam, é interessante ressaltar que não há ainda leis específicas sobre o tema, uma vez que o crime de LGBTfobia foi reconhecido como crime de racismo.

O Brasil é um dos países que mais mata transsexuais e travestis, segundo relatório da Transgender Europe, divulgado em 2021. No último ano, foram registradas 140 mortes de pessoas trans no país, conforme dados do Dossiê Assassinatos e Violências Contra Travestis e Transexuais Brasileiras, realizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais, e divulgado pela Agência Brasil.

Você não precisa concordar, gostar ou aceitar, mas tem o dever de respeitar. Desdenhar dos emojis de homens grávidos, por exemplo, e incitar discursos de ódio é compactuar não só com o preconceito, mas com crimes agora previstos em lei. Não é liberdade de expressão, tá? Esteja avisado. 

Last modified: 3 de março de 2023
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