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18 de julho de 2022
Mais que expressão de personalidade, a moda é um ato político que serve como História – e a tendência do momento tem a ver com o “pós-pandemia”
Entenda a polêmica
O que é esse tal de fetishcore?
Muito couro, látex, corset e arreio. Não, nós não estamos falando do filme 50 Tons de Cinza ou algo do tipo. Na verdade, esses componentes invadiram as semanas de moda de Outono/Inverno 2022 da Europa e fazem parte da tendência queridinha do momento, a fetishcore, que resumidamente podemos chamar de estética sadomasoquista.
Acredita-se que, entre 1837 a 1901, no final da Era Vitoriana, a relação entre sexo e moda se estreitou pela primeira vez. Dommenique Luxor, historiadora e dominatrix profissional há 20 anos, explicou em entrevista à Glamour que, por volta dos anos 20, as mulheres começaram a se vestir de maneira mais andrógina. Depois, nos anos 70, o punk invadiu as passarelas e as ruas, uma estética que é extremamente fetichista, “com composições típicas de uma dominatrix”.
Nos anos 80, foi a vez do sutiã pontudo, ícone de estilo usado e abusado por Madonna, dar as caras. Nos anos 90, a Versace criou looks inspirados no BDSM [sigla para Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo]. Hoje, a estética sadomasoquista retornou, mas repaginada, ganhando o nome instagramável de fetishcore.
Madonna na década de 80, com seu polêmico e icônico sutiã pontudo
Assim como aconteceu antigamente, a tendência de moda surge como um recado sociocultural, um grito de liberdade, um protesto contra algo que marca a atualidade. No caso, hoje, o grito pode ser contra a pandemia de coronavírus e as medidas restritivas causadas por ela, como analisa Dommenique: “O fetiche surge agora, pós-pandemia, como um pós-guerra, uma belle époque. As pessoas ficaram presas, estavam em uma condição de vida em que elas não podiam se expressar e nem se relacionar com outras pessoas. A melhor forma de demonstrar essa emancipação festiva, obviamente, vai envolver sexualidade, que é a expressão máxima dessa liberdade”, opinou à Glamour.
Para muitos especialistas do universo da moda, a estética surge ainda como um respiro e uma crítica ao conservadorismo exacerbado que vem retornando com cada vez mais força e em várias esferas da sociedade. É como se o fetishcore estimulasse ainda mais as pessoas a serem quem são, independentemente dos julgamentos que possam vir a receber por causa da vestimenta, identidade e/ou sexualidade. É a moda como ato político, de resistência!
Ainda há a questão envolvendo o sadomasoquismo, que é uma prática sexual que une o sadismo [prazer em ver o sofrimento alheio ou em fazer alguém sofrer] e o masoquismo [prazer através do próprio sofrimento]. Em uma sociedade em que falar sobre sexo ainda é tabu, ainda mais para as mulheres, a tendência fashion escancara problemáticas de gênero e incomoda – mais uma vez se firmando como um ato político.
E o estilo não é exclusivo do guarda-roupa feminino, viu? O fetishcore ultrapassa as barreiras da binaridade, e atores como Timothee Chalamet e Evan Mock já ostentaram figurinos bem “sadoma” em tapetes vermelhos. E não precisamos ir tão longe assim, viu? No Brasil, talvez um dos maiores representantes da tendência – e um dos mais atemporais – seja o cantor Supla, que bebe há anos da fonte do punk.
E aí, usaria ou muito Christian Grey para o seu gosto?
PS: importante ressaltar que, em muitos países da Europa, a maioria das restrições contra a Covid-19 foi abolida, por causa do controle da doença. Por isso, fala-se em um “pós-pandemia” – embora ela ainda não tenha acabado e siga sendo classificada pela OMS como uma emergência global.
Last modified: 3 de março de 2023