Vítima mata estuprador e é condenada pela Justiça

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15 de setembro de 2022

Pieper Lewis, de 17 anos, foi condenada por matar seu estuprador, Zachary Brooks, de 37, e precisará ainda pagar indenização à família do homem

Entenda a polêmica

Vítima mata estuprador e é condenada por Justiça dos EUA

Um caso um tanto quanto revoltante veio à tona nesta semana. Na última terça-feira (13), o juiz David M. Porter, do Tribunal de Justiça de Iowa, nos EUA, condenou Pieper Lewis, de 17 anos, a cinco anos de liberdade condicional e pagamento de indenização por matar seu estuprador.

O homem em questão é Zachary Brooks, de 37 anos, que, de acordo com depoimento da vítima, era um dos clientes de Christopher Brown, que teria submetido a adolescente ao tráfico sexual. 

Lewis alegou na Justiça que teria sido estuprada mais de uma vez por Brooks, além de ter sido obrigada a consumir álcool e drogas. Em depoimento, ela também disse que chegou a ser dopada em diversas ocasiões e abusada sexualmente na sequência.

Em uma dessas vezes, Lewis acordou no meio da noite, ainda meio grogue, e percebeu que seu estuprador dormia ao seu lado. Foi quando ela decidiu agir e matar Brooks. Mais de 30 facadas foram dadas. 

A Justiça, apesar de confirmar as falas da garota, condenou-a pelos crimes de homicídio culposo e lesão corporal. Além da liberdade condicional, ela terá que pagar a quantia de US$ 150 mil (cerca de R$ 780 mil) à família do estuprador. “Pieper não deve justiça à família daquele homem. Ela não merece ficar sobrecarregada pelo resto de sua vida porque Iowa escreveu uma lei que não dá aos juízes qualquer poder sobre como ela é aplicada. Esta lei não faz sentido em muitos casos, mas neste caso, é moralmente injustificável”, escreveu Leland Schipper nas redes sociais, um antigo professor da adolescente da época da escola, que organizou uma campanha de arrecadação de dinheiro para ajudar a ex-aluna. 

Se Pieper Lewis violar alguma das regras da condicional, ela pode pegar até 20 anos de prisão. “Isso significa que eu enfrento estupro, abuso, ódio, manipulação, abandono, perda dos meus pais e solidão”, desabafou a vítima, que é uma garota negra. 

De acordo com a Fundação Congressional Black Caucus, 40% das vítimas de tráfico sexual são mulheres negras, parcela da população que também é mais suscetível aos crimes de estupro e violência contra a mulher. O racismo estrutural é apontado como uma das causas, uma vez que ele faz com que as pessoas negras vivam às margens da sociedade e tenham menos oportunidades que as pessoas brancas, colocando-as em situações de vulnerabilidade. 

O caso é muito parecido com o de Cyntoia Brown, que, em 2004, aos 16 anos, foi condenada à prisão perpétua por matar Johnny Mitchell Allen, de 43 anos, que a escravizava sexualmente. 

Depois de anos de comoção, protestos e muita luta, em 2019, após pedido de clemência, Cyntoia, então com 30 anos, foi inocentada de sua condenação, recebendo liberdade condicional até 2029, quando enfim será uma mulher livre.