Arnaldo Jabor morreu por complicações causadas por um AVC. Destaque do Cinema Novo, ele deixou um legado extenso, que inclui um filme inédito
Um adeus dos grandes
Arnaldo Jabor morre aos 81 anos
Faleceu na madrugada de terça-feira (15) o jornalista, cronista e cineasta Arnaldo Jabor, aos 81 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Ele estava internado desde dezembro do ano passado, quando sofreu um AVC que gerou complicações.
Nesta quarta (16), acontece no Rio de Janeiro, no Museu de Arte Moderna, uma cerimônia de despedida aberta ao público. O corpo será cremado na sequência.
UMA CARREIRA DE SUCESSO
Jabor era colunista da TV Globo desde 1991 e sua última aparição nas telinhas foi em novembro, comentando sobre as suspeitas de interferência no Enem.
Nas telonas, foi indicado mais de uma vez ao Palma de Ouro, maior festival de cinema de Cannes, na França: primeiro, pelo filme Eu Sei que Vou te Amar (1986) e depois pelo longa Pindorama (1970).
Em 1973, Jabor venceu o Urso de Prata no Festival de Berlim com Toda Nudez Será Castigada, uma adaptação da peça de mesmo nome de Nelson Rodrigues. Em 1978, dirigiu Tudo Bem, que venceu o prêmio de melhor filme no Festival de Brasília e foi selecionado para passar tanto no Festival de Berlim quando no de Cannes.
Em 1989, o sucesso Eu Sei que Vou Te Amar rendeu a Fernanda Torres o prêmio de melhor atriz no festival francês. “Arnaldo Jabor era um provocador irônico, lúcido e apaixonado. Tenho e terei saudades da sua presença majestosa”, escreveu a atriz no Instagram.
Um grande nome do Cinema Novo, o diretor deixou uma produção inédita finalizada antes de falecer. Chamada Meu Último Desejo, ela é baseada em um conto de Rubem Fonseca. Outro destaque do cronista ficou por conta da canção Amor e Sexo, da Rita Lee, que é, na verdade, um poema de Jabor musicalizado.
Entenda a questão
O que foi o Cinema Novo?
Nascido nos anos 60, atingindo seu auge pós-Golpe Militar de 1964, o Cinema Novo marcou um descontentamento da classe dos cineastas especialmente com relação às questões políticas da época, que decidiu manifestar esse inconformismo em forma de filmes carregados de críticas sociais.
Ele teve três fases: entre 1960 a 1964, antes da Ditadura se instaurar no Brasil; entre 1964 e 1968, quando João Goulart, até então presidente da República, foi deposto pelos militares; e entre 1968 e 1972, quando bebeu muito da Tropicália. Apesar de terem características e estéticas peculiares, todos os períodos tinham o intuito de questionar valores considerados ultrapassados ligados ao conservadorismo – não à toa o movimento cinematográfico surgiu também como crítica aos filmes que faziam o maior sucesso na época, em sua maioria musicais e romances nada politizados.
Influenciado pelo Neorrealismo italiano e pela Nouvelle Vague francesa, o Cinema Novo é responsável por impulsionar filmes não tão óbvios e que fazem a gente questionar a sociedade em que vivemos, mais ou menos na linha de Bacurau, que fez o maior barulho em 2019.
Last modified: 16 de fevereiro de 2022